Todo encontro está acompanhado de um possível desencontro e vice-versa. E não há garantia de que as coisas se comportarão como esperado para um encontro desejado.

Tudo na vida carrega seus opostos, e entre eles, às vezes, está o que é paradoxal. A espera por um encontro feliz pode ser um desastre, tanto na espera como no fato consumado, da mesma forma que um desencontro poderá trazer bons augúrios. Tudo está atrelado as incertezas.

A incerteza é a regra para qualquer ação humana, a simples possibilidade de um encontro estaria sujeito a ação dela. Embora, e ultimamente, a tecnologia parece oferecer mais segurança e certeza as relações interpessoais. Com a inovação tecnológica as relações amorosas e de amizade passaram a ser mais frequentes, posto que as plataformas interativas facilitaram a relação com mais rapidez e eficiência.

Contudo, creio que esta eficiência na segurança e nas relações sejam somente aparentes. A tecnologia contribui, em certa medida, para destemperar o sabor dos encontros. Num mundo sem a internet, o encontro marcado pela primeira vez fazia aflorar todo um fluxo de componentes químicos no organismo capazes de provocar arritmia e falta de ar. Não se sabia exatamente os trejeitos, a expressão facial, o olhar e tantas outras coisas sutis da pessoa. Mesmo quando os encontros tinham uma certa frequência havia aquele friozinho na barriga para saber mais sobre as novidades da pessoa.

Hoje tudo é revelado antes de qualquer encontro, basta olhar nas redes sociais. Lá encontrará tudo sobre a pessoa: o que pensa, como faz, suas opiniões, seus medos, o que come, seu histórico de locais que frequenta, além da indumentária e acessórios. A surpresa perdeu a graça, embora tenha trazido informações importantes sobre a pessoa antes de um determinado encontro.

Além do mais, a comunicação digital “desconstrói a distância de modo generalizado”, disse Byung-Chul Han. Ela poda a surpresa (o particular virou vitrine) e ameniza a espera — atualmente é possível fazer videochamada e matar a saudade daquela pessoa que está longe.  Mesmo assim, a comunicação digital ainda não conseguiu competir com o encontro propriamente dito, a satisfação de estar ali, cara a cara (“em carne e osso”, como diz a expressão popular), num encontro tão desejado, aquele no qual suspiramos de tanta emoção:

Ah! Como é bom! Como é bom encontrar com alguém que a gente quer tão bem. Como é bom sentir o regozijo do encontro, aquele encontro que por conta dos desencontros perdeu-se nas veredas da vida…quando o encontro é esperado, pelo tempo e o espaço reforçado, tudo passa mais devagar, a espera é guerra renhida. Mas quando se torna fato, cada segundo é precioso; eternizá-lo é a regra.

Contudo, quando o compromisso não é bem-vindo, por força do acaso, ou dos efeitos de uma causa, a preferência é que o tempo passe o mais rápido possível. O desejo aí é pelo fim do fato, onde o desencontro deveria ter sido a regra:

Nossa! Como é chato isso! Desagradável! Uma coisa dessa não tem fim de acabar. Ah! Como seria bom se saísse daqui logo. Esse diacho do tempo não passa!

Encontro e desencontro são as faces da mesma moeda; o paradoxo, seu companheiro.

Faz algum tempo que escutei duas pessoas conversarem sobre um tal fulano, falecido. Um deles dizia que por conta dos afazeres da vida o velório era a única possibilidade que ele tinha para rever os amigos e os demais familiares.

Tinha pensado nisso antes, o velório é uma deixa para reencontrar familiares e amigos que dificilmente teriam outra oportunidade para se verem pessoalmente. O tempo passou, e tornei a ouvir algo parecido, mas em outro contexto, agora no velório de um dos meus familiares.

— “Ei! A gente só se vê em velório, é?” — perguntou uma das minhas primas a outro primo; ela segurava a mão dele expressando um leve sorriso.

Encontro em velório é paradoxal. Nele, um dos participantes está somente de corpo presente, o finado, enquanto os demais partilham o momento de corpo e consciência.

Em outro velório pude observar com mais detalhe todo o desenrolar da cerimônia fúnebre e, ao mesmo tempo, observar detalhes de como se daria as relações de reencontros daquela turma com o último encontro com o falecido que estava lá, e não estava.

Enquanto o finado estava em sua posição fatal, e seus familiares mais chegados lamentavam a morte do ente querido — para os familiares, era chegada a hora do desencontro, e este encontro era o último — os demais formavam pequenos grupos e aproveitavam a oportunidade para colocar as conversas em dia.

Ao observar as expressões faciais em alguns grupos, notava que ora um sorriso escapava por ali, ora a seriedade tomava conta da conversa e ora se escutava os choros.

Notava, ainda, os sussurros sutis de alegria pelo reencontro — a sutileza de felicidade ocorria sob o controle da moral (para não fazer feio, nem ser desumano, diante da família que sofria), naquele momento de alegria contida, pelo reencontro com os vivos, e de tristeza exposta, pelo encontro com o morto, num ambiente onde o respeito ao morto prevalecia ante a festa de reencontro, os presentes participavam de um fato paradoxal.

Por fim, deixo aqui o fragmento transcrito da música Samba da benção de 1967, de Vinicius de Moraes e Baden Powell: A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nessa vida”.  Neste fragmento a de se perguntar por que a vida é a arte do encontro, e por qual motivo existe tanto desencontro? Tenho aqui na cuca uma ideia sobre isso, mas ficará para outra postagem.