CUIDADO! Quando sentir que sua vida está entediante, por comparação ou por acomodação apática perceptiva (ou os dois), de modo em que as redes sociais são princípios balizadores, é bem provável que você pegou a rota para mares revoltos. Seu barco está de proa para a ânsia e de popa para o bem-estar.

Não há nada de errado em fazer registros para postagens em redes sociais, é até interessante no presente, em um futuro breve e na posteridade. No meu caso, servem até de parâmetro para acompanhar o processo de aprendizado sobre o fazer registro fotográfico.

Explico: lembro-me que o Orkut (rede social criada em 2004 e encerrada em 2014) funcionava de modo parecido como o Facebook. Postei vários registros meus — boa parte das minhas fotografias estava somente na plataforma.

Anos depois a rede social fechou e fiquei sem acesso aos materiais; claro que a empresa avisou com antecedência que iria fechar, mas não dei muito crédito. Contudo, alguns meses antes que eles excluíssem definitivamente a plataforma, permitiram o último acesso aos usuários para que fizessem downloads. Aproveitei a oportunidade e realizei os procedimentos.

No álbum de fotografias estavam algumas das quais acreditava que eram meu xodó, mas ao comparar com as fotos atuais percebi que a diferença estética era gritante: as primeiras fotografias digitais de um amador que era ainda mais amador do que hoje. Atualmente utilizo-as, também, profissionalmente na produção e apoio às aulas.

O congelamento do momento é algo muito primoroso, salvo casos mais contundentes. Contudo, quando o registro se torna fonte habitual de dependência (não mais de distração, mas de necessidade) seu bem-estar já está comprometido — quando você se sente desconfortável, desanimado por não estar constantemente expondo-se em vitrine e no contar a sua história (leia-se feed e story); quando a abstinência do objeto provoca ansiedade; quando você acorda (ou quase nem dorme) e corre para checar as redes sociais; quando a timeline torna-se mais importante do que desfrutar do instante, já que sua atenção está para o que vai ficar exposto e não para o que está a apresentar-se na efemeridade — é sinal de que você está dependente das plataformas.

Elas (as grandes corporações) já identificaram seus pontos fracos — conhecem seus apetites, ódios, medos, seus gostos mais profundos, seus desejos mais obscuros, sua inveja mais atiçada — e vão trabalhar em cima disso, em favor delas, é claro. Você foi fisgado e é agora alimento para as grandes corporações.

Os algoritmos, já escrevi sobre isto AQUI, irão manter você sempre dependente deles. Para que atente bem ao citado acima, trago alguns dados de uma pesquisa científica como reforço as afirmações AQUI.

Baseadas em seu diário público (foi-se o tempo em que escrevíamos nos nossos diários e ficávamos furiosos quando alguém os lia) as plataformas criam situações nas quais os colocam em desassossego contínuo: exacerbam a inquietude e podem levar a depressão.

Portanto, é urgente problematizá-las. As tecnologias devem ser criadas para que possam servir ao intelecto do usuário, e não para serem mecanismos de escravização de intelectos para o deleite do seu criador. Entretanto, pesquisas mostram que boa parte dos usuários (principalmente os mais jovens) estão sendo subjugados por elas.

Contudo, a ausência de criticidade no uso das tecnologias transforma o usuário em vassalo, na sua forma mais básica da vida, e o controla pela sutileza do entretenimento. #ESTAMOSDEOLHO!