Dentro de poucos dias em vários lares, em algumas culturas, espalhados por diversos países, o povo seguirá alguns rituais característicos do mês de dezembro. Aqui pelos lados do ocidente a religião cristã, com algumas exceções a este credo, comemorará o nascimento de Jesus.

Os rituais seguidos para tal festa compõe-se, entre outras características, de: um jantar especial (a ceia de Natal) com a família reunida, um presépio em um cantinho da casa, uma árvore (as árvores, desde a antiguidade, foram usadas como símbolos divinos, eram utilizadas em festivais), artificial ou não, contendo bolinhas penduras e muitas luzes piscando — antes usavam-se velas, posto que não havia luz elétrica. A simbologia mais antiga do uso das luzes referia-se ao Deus Sol, que nascia com a chegada do solstício de inverno no hemisfério norte.

Solstício é um fenômeno que ocorre duas vezes ao ano (em junho e dezembro, por volta do dia 21), em que o Sol atinge o ponto de maior afastamento em relação ao equador. Em razão do ângulo de inclinação da Terra ocorre diferenciação em quantidade de luz solar nos hemisférios. Por exemplo, em dezembro ocorre o solstício de verão aqui para nossos lados (no hemisfério sul) e solstício de inverno no hemisfério norte.

O fenômeno trazia bons augúrios para as civilizações antigas, o solstício de inverno era a época das cerimônias de purificação; celebravam o nascimento (ou renascimento) com a chegada do Sol, posto que as noites eram mais longas com dias mais curtos; dias mais longos significava evidência de colheitas. Faziam-se grandes rituais de oferecimento e agradecimento as energias de limpeza e purificação; era época de pedir aos deuses proteção e realizações dos desejos mundanos, era época das curas e de equilíbrios de energias.

Para os povos celtas a Deusa Solar dava à luz a seu novo filho, neste intento, proporcionava a continuação dos ciclos da vida; para os romanos, marcava a Saturnália (consagração ao deus Saturno, o deus das colheitas); para os povos do Norte da Europa, ocorriam as festividades cujo nome Yule significava “roda” em norueguês, festejavam a energia do nascimento. Era o início da roda do ano, era o Festival das Luzes.

Como podemos perceber, as celebrações desta época, em dezembro, são mais antigas do que as nossas celebrações natalinas. Há registros destas festas pagãs cerca de 7 mil anos antes do nascimento de Jesus. Estamos diante de eventos antigos, com diversas conotações simbólicas, dependendo da cultura e crenças de cada civilização. Desta forma, a nossa comemoração do dia 25 de dezembro tem uma certa semelhança quanto ao período das cerimônias e diferença quanto ao objeto de celebração.

Saliento, ainda, que a data na qual temos como o nascimento de Jesus só veio mesmo a existir 525 anos após o suposto ocorrido. Ou seja, foi através do entendimento do monge Dionísio Exíguo (Cítia Menor, na Romênia), baseado no nosso calendário atual, que após realizado alguns cálculos, chegou-se a tal data na qual as igrejas cristãs, com algumas exceções, chamam de ano 1, ou na escrita em latina: “anno Domini nostri Jesu Christi” (ano de nosso Senhor Jesus Cristo).

Alguns materiais nas quais li (a maioria foi na internet), apresentam que a data escolhida do aniversário de Jesus teve mais conotações simbólicas do que fatos comprovados. Há quem diga que a igreja cristã quis “abafar” as festas pagãs, se apropriando das celebrações antiga e as repaginando. No entanto, outros dizem diferente, é o caso de um artigo do padre Evaldo César de Souza, que informa o seu ponto de vista baseado em texto documentais.

Verdadeira ou não, o fato é que as comemorações do nascimento de Jesus no mês de dezembro tornaram-se símbolo de fé e renovação; e por complementação do ensejo, o sistema capitalista utiliza-se das cerimônias e as reforça, promovendo a engorda do touro (leia-se mercado).

A força do consumo é tão grande que muitas vezes supera até os festejos do nascimento de Jesus, com outro agravante: aqui no Nordeste, em plena força solar (às vezes a temperatura chega a mais de 40°C) — nos confins do semiárido e nas profundezas da caatinga, nos quais ou Sol reina a base de chicotadas ardentes, onde cada chibatada faz escorrer o suor que sai da nuca, passando pela coluna dorsal, até chegar no extremos inferior da base da coluna — o Papai Noel (outro mito emblemático – possivelmente originado por volta do ano 280 d.C. na figura de São Nicolau, bispo nascido na Turquia, ou ainda, de lendas sobre o “bom velhinho”) usa casaco vermelho — a cor vermelha é considerada cor quente, absorve calor — botas escuras e um gorro peludo, toda a indumentária visa combater as baixas temperaturas. É uma incongruência cultural.

Em se tratando de consumismo, o sagrado e o profano sempre andam juntos, em alguns casos a relação é parasitária.