
Nada é para sempre. Deixar algo ir é natural. Não obstante, há coisa da qual não queremos que vá embora, e há outra da qual temos aversão (quanto mais cedo for, melhor). Na primeira, segurar não é natural, e pode até ser prejudicial. Na segunda, a aversão que sentimos obscurece o aprendizado. Todavia, tanto um quanto o outro deixam ensinamentos. Basta que estejamos abertos ao aprendizado para ver as coisas por outro ângulo.
A informação está muito vaga, não é mesmo? Tudo bem, vamos colocar nisso alguns sujeitos. É só ter um pouco de paciência que entenderá essa muvuca de palavras que parecem sem sentido.
Vamos às explicações. Mas antes vou apresentar um contexto.
Em um encontro holístico do qual participei, cujo tema era Qualidade de vida, rolava uma conversa na qual o assunto era alimentação. Discutia-se a importância de levar muito a sério tudo aquilo que entra como alimento em nosso organismo. A discussão pairava sobre a alimentação consciente: o ato de prestar atenção na quantidade e qualidade do alimento que nos dispomos a ingerir, e, sobretudo, o ato da mastigação sem pressa e corretamente (provérbio chinês: “Mastigue bem o alimento. Seu estômago não tem dentes”). A digestão começa pela boca, foi assim que aprendemos na escola nas aulas de Ciências.
Um yogue (praticante de yoga) Swami Chidvilasananda diz “que hábitos alimentares impróprios são um pesado fardo para o sistema nervoso. O corpo não pode nem assimilar, nem expelir, certos alimentos que absorve.” Diversos estudos trazem informações de dicas e conselhos para que possamos levar a sério este ato tão comum e que é tratado com descaso no nosso dia a dia.
Entre estes estudos podemos discorrer rapidamente sobre a medicina Ayurveda (Conhecimento ou Ciência da vida, ou ainda, Ciência da longevidade), sistema antigo de medicina indiana (com mais de 5 mil anos de existência).
O Ayurveda nos diz que o homem é constituído por cinco elementos básicos: Éter, Ar, Fogo, Água e Terra os quais se manifestam no corpo humano em três humores ou tridosha vidya: Vata (Ar: controla todo os movimentos internos e externos) Pitta (Fogo: que promove todos os processos de transformação – digestivos, enzimáticos ou hormonais) e Kapha (Água: responsável pela lubrificação, nutrição e estruturação do corpo e da mente). Em cada uma destas naturezas há um segundo elemento complementar: Vata (Ar + Éter), Pita ( Fogo + Água) e Kapha (Terra + Água).
Estes humores, aos quais governam as funções biológicas, psicológica e fisiológicas do corpo — segundo o médico Vasant Lad, que trabalhou como diretor médico do Hospital Ayurveda em Pune (Índia) e foi professor de Medicina Clássica na Pune University of Ayurvedic Medicine — são também responsáveis por dar a proteção básica dos organismos em condições fisiológicas normais, desde que estejam em equilíbrio; quando desequilibrados favorecem ao aparecimento das doenças.
Em um artigo publicado pela Revista de Medicina (São Paulo), Antônio Cesar Ribeiro Silva Deveza, médico pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e autor da dissertação sobre a Medicina Clássica Indiana (Ayurveda) explica que as formas corporais, assim como as substâncias expelidas, falam muito a respeito da constituição de um indivíduo. A cor da pele, os tipos de orelhas e de nariz, o formato dos olhos (pequenos, grandes, proeminentes, sensíveis ou não a luz), pálpebras (caídas ou não), a íris, pestanas (secas etc.), formato e características da língua (cor, riscos), as unhas (tamanho, forma, superfície, contornos, frágeis, quebradiças etc.), a urina, menstruação, o suor, as evacuações das fezes e tantas outras características físicas e de comportamentos.
Assim, trazendo como destaque uma destas características: AS FEZES, por exemplo, podemos ressaltar que é de importância ímpar sabermos o que entra no nosso sistema digestório, pois nossa saúde também depende da alimentação consciente. Essa consciência alimentar evitará muitos transtornos em um futuro bem próximo. Foi sobre isso que a conversa, na época, centrou-se; principalmente sobre os compostos expelidos: o cocô foi o carro-chefe. Confabulávamos sobre as merdas que nos acompanham todos os dias. Nesta conversa lembrei-me de um livro que lera, O leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, no qual estava escrito: “Todos os dias livramo-nos da merda, mas ela está conosco e dentro de nós”. O bate-papo holístico abriu espaço para que cada um falasse das suas experiências com as merdas diárias. Naquele ínterim percebi que alguns participantes estavam tímidos ao revelarem suas experiências, outros falaram com tantos detalhes que até pensei que eles estavam em seus divãs. A turma levava o assunto a sério, porém com certa dosagem prazenteira. Aprendíamos com risos, mangações e seriedades. Ao fim da terapia de grupo sobre alimentação consciente, onde tudo virou merda, todos saíram com uma certeza: a cagação (leia-se as fezes) é tão importante quanto a alimentação, posto que o primeiro brota do segundo.
Sobre estes primeiros enfoques, caro(a) leitor(a), você já deve ter imaginado do que vou escrever. Sem mais tardança parto logo para o papo objetivo.
Pois bem. Minha pergunta agora é para você, a despeito de não ter participado deste encontro holístico nada o impedirá de narrar (ou pelo menos pensar) sobre o assunto: Será que você já prestou atenção nos compostos processados antes de empurrá-los para longe da sua vista? Acredito que já tenha dado aquela espiadinha básica muitas vezes, ainda que muito rápida, antes do adeus. A cerimônia de despedida é lépida, embora creia que deveria ser um pouco mais demorado para dar tempo a imagem assentar-se na mente, só depois é que o registro físico deveria ser lançado aos confins das tubulações. Exatamente nesse tempo alongado, antes de escondê-los dos olhos, que você deve prestar atenção a sua cria — a cor, a textura, o odor, o formato (a ação mecânica que o transformou naquela coisa): se está na forma de pequenas bolinhas duras, separadas; ou no formato de linguiça encaroçada com pequenas bolinhas; ou na forma de linguiça com rachaduras; ou ainda alongada com formato de salsicha, parecido com uma cobra. Também deve-se espiar se tem pedaços macios e separados com bordas bem definidas; ou mesmo, uma espécie de massa pastosa fofa, com bordas irregulares; ou totalmente líquida. Estes formatos você confere abaixo na Escala de Bristol para Consistência de Fezes (EBCF) que foi desenvolvida e experimentada na cidade de Bristol, Inglaterra.

Sim… parece estranho falar sobre esse assunto; mas pode acreditar, a espiadinha é tão necessária quanto a expulsão do cocô. É nesse ato, tão particular, que devemos olhar com sentimento de alegria ou de culpa. Caso queira se aventurar em mais detalhes sensoriais você pode pegar um pouco e testar para sentir se é mole, viscoso, fino ou denso. As fezes nos dizem o que comemos e se foi bom para o organismo ou não.
Faça um simples teste:
Ao expulsar o bolo fecal, cujo dia anterior você tinha comido carne, e antes de efetuar a queima de arquivo, você poderá dar aquela espiadinha com mais atenção: a cor e a consistência. Se tem ou não tem brilho, se tente odor forte ou leve. Escolha outro dia em que você não irá comer nenhum tipo de carne, substitua por legumes ou frutas. No dia seguinte, veja novamente as características físicas das fezes e procure sentir o odor que ela exala. Você verá (e sentirá) as mudanças. Saberá logo de cara, somente com a espiadinha atenta, que certos alimentos podem afetar a estrutura física (forma e textura) e a intensidade dos odores.
Ah, não esqueça: as fezes têm odores, isto é normal. Estes odores estão relacionados, entre outras coisas, aos processos de transformações provocados por bactérias e micróbios (microbiota) que estão em nosso intestino. Estes seres geram compostos sulfurosos por conta dos processos metabólicos. Nosso sistema digestório é um laboratório físico-químico-biológico bastante eficiente, mas para que funcione bem ele precisa de sua ajuda.
Ressalto que, quando as fezes apresentam odores fortes (pútrido) e cores não comuns é bem possível que pode estar ocorrendo algum problema, no qual pode ser a sua descomprometida alimentação, ou ainda algum problema que necessita ser averiguado por médico (gastroenterologista).

Todavia, certos alimentos podem provocar odores fortes, por exemplo: feijoada, repolho, ervilha, brócolis, leites e seus derivados etc. Sem embargo, não vamos entrar neste outro mundo de informações. É fácil você encontrar estes assuntos em revistas, livros ou sites sobre alimentação.
Lembre-se também, ao optarmos por uma dieta saudável faz-se necessário que o indivíduo leve em conta o sabor do alimento (doce, acre, salgado, picante, amargo ou adstringente) e se é pesado ou leve, derivativo de calor ou frio, oleoso ou seco, líquido ou sólido. Ao escolher a dieta, as estações do ano também devem ser consideradas.
Assim sendo, o alimento não é algo deve ser prescindido; deve ser levado a sério, posto que o ato de comer pode ser mortal caso não seja conduzido com parcimônia. Esteja atento aos avisos do organismo, repare em seus sussurros e sinais.