
Cada país tem seu herói e seu ídolo que merece. Aqui no Brasil não é diferente; aliás, até certo ponto é diferente. O Brasil tem grande diversidade étnica, nossa cultura é bastante diversificada; porém nosso sistema educacional é defasado, e isto contribui de maneira desfavorável sobre pensar o pensamento, ou seja, formação crítico-reflexiva. Carecemos de uma cabeça bem-feita. Lembra, Edgar Morin: “uma cabeça bem-feita é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos e, com isso, evitar sua acumulação estéril”. Logo, a educação passa a ser conditio sine qua non para o desenvolvimento de uma cultura geradora de gente pensante; embora certas pessoas, mesmo com níveis mais elevados de instrução, tenham preguiça de pensar. Pensar, segundo Jean Piaget, é agir sobre o objeto e transformá-lo.
Isto posto, vamos pensar de maneira crítico-reflexivo:
Herói, no sentido mais arcaico, é aquele que se diferenciava dos demais seres por qualidades e ações: coragem, conquistas e vitórias. Segundo aponta Joseph Campbell, O herói de mil faces, numa visão mais literária diz que “o herói parte do mundo cotidiano e se aventura numa região de prodígios sobrenaturais; ali encontra fabulosas forças e obtém uma vitória decisiva; o herói retorna de sua misteriosa aventura com o poder de trazer benefícios aos seus semelhantes”. Para Xenófanes, séc. IV AEC (Antes da Era Comum), citado em A ciência através dos tempos (Attico Chassot), que caçoava da glorificação conferidas aos atletas olímpicos, considerava o saber mais importante que a aparência: “o nosso saber vale muito mais que o vigor dos homens (…) Não é justo preferir a força ao vigor do saber”. Atualmente o herói é mais amoldável, mais volátil, e foi domesticado pela cultura de massa. O herói do nosso tempo é arquétipo que foi sacramentado pela mídia.
Um dos casos é o herói esportivo no qual, considerando o quesito bravura, grandes feitos e atributos morais positivos, não deveria ter este epíteto; pois são construídos pela comunicação social (tv, rádio, crônica esportiva, revista, jornais) e não por grandes feitos em prol das transformações de um povo. Os heróis esportivos são conjecturáveis, edificados através da linguagem alegórica (narrativa ficcional) e atos reais (alguns, em certa medida, são insignificantes para a sociedade: saber fazer gol, driblar, sacar bola, colocar a bola na cesta, pilotar carro etc.) que não contribuem em maior grau para a transformação da sociedade, na maioria das vezes estes heróis têm como objetivo os seus próprios deleites (seu particular regozijo, ostentador).
Contudo, e como estamos falando de esporte, de espetáculo, a massa passiva do povo, a qual glorifica o herói, considera como grandes feitos a vitória (ou o esforço para a vitória) sobre o oponente. A conquista de uma batalha — aqui como exemplo o futebol —, ou seja, a vitória em campo representa o grande esforço de uma preparação para atingir aquele fastígio, passa a ser algo de grande valor para o torcedor.
Pois bem… o herói construído passa a ser uma utopia cobiçada pela massa, quimera dos caprichos mundanos, por estar distante do ser humano comum em virtude dos feitos. Estes devaneios obstaculizam a chegada da empatia entre a vida do herói e a vida do homem comum. O herói é visto como algo sobre-humano. Neste caso, tal vislumbre não rende dividendo em batelada, os construtores de heróis esportivos assumem novas estratégias: travestir o herói em peça publicitária, algo mais palpável. Eles vão proporcionar uma ponte de ligação entre o herói urdido e o homem comum ao difundir ações nas quais encarnem o ser sobre-humano em ídolo.
É aí que entra a disseminação de propagandas que reforçam a vida simples do herói (quanto mais simples for, mais empatia aflorará). Assim, a mídia condiciona o olhar do idólatra para um aspecto mundano do seu herói urdido, agora repaginado: entrevista o atleta e a sua família, reforça a ideia de que é pobre e teve várias conquistas através do esporte, apresenta ao público suas preferências (comida, música, roupas etc.), exibe suas redes sociais; ou seja, cria uma espécie de fetiche no qual será utilizado como material publicitário que aliciará os fãs a usarem as marcas dos produtos nos quais são de preferência do ídolo, assim como participar dos “grandes feitos” do atleta.
A mídia demanda contínuo processo de reprodução de fetiches que gerem lucros. Embora, em raríssimos momentos, o poder midiático (e as empresas) perde o controle da marionete, posto que nem sempre o produto apresentado pelo ídolo é o de sua preferência. Foi o que ocorreu recentemente com o jogador Cristiano Ronaldo quando ao empurrar as garrafas da Coca-Cola, patrocinadora do torneio europeu, para o lado da mesa, e logo em seguida pega uma garrafa com água e coloca ao alcance das câmeras e diz: “Água”. Esta atitude provocou prejuízo da ordem de 20 bilhões à Coca-Cola.
A despeito do herói-ídolo construído para obtenção de pecúnia de alto valor, em proveito de poucos, vou trazer outros heróis para que possamos comparar seus feitos. Contudo, já vou logo adiantando: estes aos quais irei citar se aproximam em grau da narrativa clássica do que sejam realmente um herói: superar obstáculos, remissão e triunfo em nome de um povo e para o povo. Estes heróis não foram urdidos pela mídia nem pelas empresas, não são artefatos, não ostentam (uma vez que ganham salários incompatíveis com a labuta), mas agem. Quem são eles? A RESPOSTA ESTARÁ NA PRÓXIMA POSTAGEM: CLIQUE AQUI!