DSCN7805Para quem já leu livros do gênero distópico e ficcional, alguns exemplos como: “Admirado Mundo Novo” (A. Huxley), “1984” (G. Orwell), “O Conto de Aia”, (Margaret  Atwood), Laranja Mecânica (Anthone Burgess) e “O Nome da rosa” (Umberto Eco) , não tem como não fazer alguma relação com a contemporaneidade. O que parecia absurdo nos enredos dos livros, na verdade, já não é mais tão absurdo assim. Hoje, somos monitorados constantemente pelo uso dos cartões de créditos, cartões magnéticos, câmeras de vídeos no trânsito, nas residências, nas lojas, nos bancos, nos supermercados, nos celulares, nos computadores e nas TVs. Somos vigiados também pelas redes sociais, e-mails e por diversos aplicativos de acesso à internet. Parece que fazemos parte do enredo no livro “1984” (clássico moderno do século XX, onde ter uma mente livre é considerado crime gravíssimo), ou mesmo, estamos participando de um Big Brother, ou ainda, em um Show de Truman (distopia cinematográfica da década de noventa), reality show, onde um homem que nasceu e cresceu sob os holofotes das câmeras é monitorado 24hs por dia.

Quase já não há como escapar, pois eles controlam nossas leituras, nossos desejos. Sambem quem somos, o que fazemos, o que pensamos, conhecem nossos gostos e desgostos, conhecem nossos segredos. Nos controlam por indução a partir de levantamentos e intepretações dos dados obtidos (obtenção de insights, formulações de previsões), de alguma maneira, nos quais garantem a eles estratégias de negócios mais eficazes. Sutilmente, por indução programada, eles nos arrastam para caminhos pré-programados. A coisa está chegando a tal ponto que, praticamente, e não é exagero destacar, nossas escolhas não são mais somente nossas. Parece conveniente pensar que somente conhecemos aquilo que eles querem que conhecêssemos, só escolhemos aquilo que eles querem que escolhêssemos.

Claro, as ficções, e em especial as distopias – espécie de história com alguma lição que relatam regimes ditatoriais, sociedades controladas opressivamente – não seriam exatamente como na vida real. Embora pareçam espelhos que mostram futuros tenebrosos e com grandes possibilidades de ocorrerem; algumas vezes não exatamente igual a sociedade do momento, mas bem semelhantes em grau.

fahrenheitNos enredos de alguns livros distópicos, nos quais o controle era mais brutal (longe da sutileza de hoje); como por exemplo, no “Fahrenheit 451” – de Bradbury – escrito em 1953 (o livro faz referência a um futuro próximo), onde as pessoas estavam proibidas de lerem certos livros, o Estado totalitário proibia material literário e didático. A brigada de incêndio (os bombeiros), nesta sociedade, não combatia somente o fogo, mas era responsável pela queima de qualquer livro proibido que encontrasse em posse de pessoas não autorizadas.

laranjaJá na sociedade do “Laranja Mecânica” (escrito em 1962), o povo era controlado pelo governo. Jovens subversivos eram forçados a passarem por uma cura comportamental, experimentos científico violentos, afim de transformá-lo em pessoas educadas na linha proposta pelo governo: moldagem das pessoas em um formato robótico (unicidade de sentimentos e vontades), sem vontades próprias (espécie de zumbi depressivo).

o nome da rosaOutro ainda, como descrito no livro “O Nome da Rosa” – de Humberto Eco (romance ficcional), publicado em 1980 (a narrativa acontece no ano de 1327 – período da baixa idade média – XI a XV, época de intensas transformações sociais, política, econômica e religiosa – período renascentista) – no qual um monge franciscano investigava uma série de assassinatos em um mosteiro italiano. Estas mortes estavam relacionadas ao uso dos livros proibidos guardados em uma biblioteca de difícil acesso. Uma rede de labirinto dificultava qualquer aproximação aos livros proibidos que estavam na biblioteca do mosteiro. Somente monges conheciam a entrada e a saída. Lá, nessa imensa biblioteca, estavam escondidas, entre tantas outras obras, as obras aristotélicas.

Todavia, não duvido que em um futuro não tão distante seremos alvos de mentes criativas cada vez mais ambiciosas e perigosas. Georg Feuerstein (indólogo alemão) nos alerta: “devemos ter em mente que a ambição é sempre à custa de outras pessoas”. Bem antes de Feuerstein apresentar seu alerta,  Heráclito de Éfeso (filósofo pré-Socrático – 535 a.C) já dizia: “é necessário entender que a guerra é notória, o conflito é costumeiro, e todas as coisas acontecem por causa de conflito e necessidade”. Há de se considerar que é justamente por tentarmos atingir a civilidade que criamos bifurcações nas quais nos colocam em um ambiente propício a não civilidade, acendemos um dos pavios dos conflitos contemporâneo.

É necessário entender que a guerra é notória, o conflito é costumeiro, e todas as coisas acontecem por causa de conflito e necessidade

Nestas ambições desmedidas, como indivíduos simplórios, somos alvos fáceis. Estamos quase sem defesas, a esmos nas mãos de gente com terceiras intenções (ver reportagem da Uol). Por isso, devemos ficar atentos às nuances das mudanças, algumas são bastantes sutis. Estamos sendo, psicologicamente, monitorados; é quase (ou é) o Show de Truman.

Devemos ter em mente que a ambição é sempre à custa de outras pessoas

No mundo contemporâneo, a cada passo que se dá em direção ao mundo tecnológico (em especial aos produtos e serviços oferecidos) mais próximos estamos dos olhos dos caçadores, ávidos pelos deslizes das presas fáceis. O que podemos fazer contra tudo isto? Amenizar um estrago maior. Procurar mecanismos (meios) para não cair tão facilmente nas mãos deles. Algumas medidas seriam tentar evitar cadastros em sites não confiáveis, evitar o repasse de senhas de e-mail e/ou redes sociais (alguns links oferecem acesso a seus materiais quando você entra com a conta do Facebook, Instagram e outros), evitar o uso de aplicativos desconhecidos, neste caso leia as notificações e comentários antes de fazer o uso do produto. Não obstante, mesmo com todos estes cuidados, não há garantia da completa segurança.