Em épocas anteriores, na idade média, por exemplo, o racismo tinha um formato xenofóbico. Diversos povos em época de guerra subjugavam o vencido. Vale salientar que esta prática independia da raça, haja vista que pessoas de mesma raça guerreavam entre si, os perdedores sofriam preconceitos. Em época mais próxima a nossa, século XX, por exemplo, alguns escritores produziram obras explicitamente de cunho racista. Um caso bastante conhecido são as obras de Monteiro Lobato. O autor escreveu livros, contos, crônicas e artigos. Uma parte das suas obras foram para o público infantil. Abaixo destaco um trecho do livro “Reinações de Narizinho”:

“Afinal as duas velhas apareceram – Dona Benta no vestido de gorgorão, e Nastácia num que Dona Benta lhe havia emprestado. 
 
Narizinho achou conveniente fazer a apresentação de ambas por haver ali muita gente que as desconhecia. Trepou em uma cadeira e disse:- Respeitável público, tenho a honra de apresentar vovó, Dona Benta de Oliveira, sobrinha do famoso Cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira, que já morreu. 
 
Também apresento a Princesa Anastácia. Não reparem por ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ela virará uma linda princesa loura.”  (LOBATO, vol.2, pág 73)
Em outra obra do mesmo autor, agora em um dos seus contos, “Negrinha”, o autor discorre sobre dona Inácia e uma criança chamada de Negrinha. No conto, ele relata um castigo aplicado pela dona Inácia na criança Negrinha. Escrevia ele:
“Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. (…) Nascera na senzala, de mãe escrava (…) 
 
(…) Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica [não gostava de criança] (..) 
 
(…) Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado e matar a saudade do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente. 
 
(…) Tragam o ovo. 
 
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou: 
 
Venha cá! Negrinha proximou-se. Abra a boca! (…) 
 
A patroa, então, com uma colher, tirou da água ‘pulando’ o ovo e zás!” na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só”.  
(O conto acima foi extraído do livro “Uns e Outros – contos espelhados”, pág.105, que é uma coletânea de contos organizados por Helena Terra e Luiz Rulffato, livro este públicado pela TAG – clube de assinantes de livros ).
Segundo artigo publicado pelos professores João Feres Júnior, Leonardo Fernandes Nascimento e Zena Winona Eisenberg na revista dados, publicação acadêmica, do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipesp-Uerj), Lobato era racista de perigosa influência no meio infantil. Segundo os autores do artigo, o escritor participou da Sociedade Eugênica de São Paulo (Eugenia é um termo grego que tem como significado: “bem nascido”). A eugenia pretendia, entre tantas outras posições defendidas, sanar a sociedade de pessoas com características indesejáveis. Estas normativas da Sociedade Eugênica foram pano de fundo para a implementação de ideias com posicionamento racista.
Sabemos, nos dias atuais, que o racismo ainda perdura. Seja nas escolas, em rodas de amigos, em algumas Igrejas, nas redes sociais, na TV e em muitos outros locais. Embora nesta época o ato racista está sendo combatido, ainda é possível presenciar diversos casos sutilizados, com o propósito de livrar-se da denúncia.
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