Veja o que Zeca Baleiro diz:
Há á uma canção antiga do compositor Sérgio Sampaio, “Dona Maria de Lourdes”, em que ele crava um lindo verso: “… escondido das notícias, entre as feras/nas revistas sem assunto, meu amor”. É uma alusão óbvia às revistas de fofocas de celebridades que começaram a proliferar entre os anos 60 e 70, época em que a palavra “celebridade” ainda não era popular, mas a fofoca sim.
Na carona do sucesso arrasador da recém-chegada televisão, ali pelo final dos anos 50, algumas revistas, como as clássicas Revista do Rádio e Intervalo, viraram manias nacionais, plantando boatos ou relatando rumores de casos amorosos, separações, processos e picuinhas de e entre famosos, especialmente gente que punha a cara na tevê, cantores e atores à frente.
Curioso pensar que a tevê, assim como toda a indústria cultural, nasce do desejo por fantasia, pelo sonho, como um antídoto contra a dura e embrutecedora realidade. Era a alegria do circo em contraponto à dureza da luta pelo pão de cada dia. Pois a primordial sede de ilusão deu lugar à mórbida curiosidade pelo cotidiano mais mesquinho, que vemos através de programas policiais que exploram a miséria sem pudor, outros que expõem a vida dos casais ou seus conflitos com filhos drogados, rotina de obesos, duelos de performance sexual, etc., um verdadeiro circo de horrores.
Foi a febre por “realidade” que fez com que milhões de espectadores legitimassem a fábrica de ouro e fama Big Brother, um modorrento programa estrelado por um bando de mequetrefes cuja maior aspiração na vida é a fama, e cujo maior talento é a cara de pau para atingi-la.
Esse público ávido, não só pela vida privada dos outros como pela própria privada destes, começa a dar mostras de cansaço, e oxalá isso seja sinal de uma real mudança (a última edição, a nona, teve o menor índice de audiência desde o início do programa, em 2001). Portanto, em vez da aridez humana dos reality shows, proponho às tevês que façam um dream show, um show de sonhos, produto hoje tão em falta no mercado.
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