Amanhece no litoral … a barca, já recuperada da labuta do dia anterior, espera tranquila por mais um dia movimentado.

De pronto já se percebe um cão fazendo sua caminhada matinal a procura de alimento e, possivelmente, passando revista ao território. Alguns cães desta região litorânea são de pescadores, outros são cães de rua (vou chamar aqui de vagabundos, no sentido carinhoso da palavra). Os cachorros vagabundos, por conta de serem marginalizados, têm comportamentos ora defensíveis (o homem é muito mau, faz-se necessário proteger-se), ora indulgentes (preferem arriscar-se e tentar amizade de um homo erectus, nem todos eles são insensíveis).

A vida dos trabalhadores do mar não é fácil, Victor Hugo (poeta, dramaturgo e escritor) deixou isto bem claro em seu romance Os trabalhadores do mar. Às vezes, os pescadores têm alguma noção se o mar está para peixe; outras vezes, não. A casualidade é peculiaridade da pesca. Estes homens não usam as tecnologias de ponta, muitas vezes saem tutelados pela sorte ou pela oração. A frase de Ernest Hemingway (escritor) encaixa bem com o dia a dia da pesca: “Cada dia é um novo dia. É melhor ter sorte. Mas eu prefiro fazer as coisas sempre bem. Então, quando a sorte chegar, estarei preparado“.

A determinação destes homens é admirável. Cedinho eles já preparam o café e seguem com os apetrechos necessários para a labuta. Organizam tudo no barco, aquele solitário barco da noite anterior, fazem a oração do dia e seguem para as incertezas da pesca.

Carregam em si a resiliência, a paciência e o respeito pelo mar. Agem com deferência diante da natureza, não a subjugam. Tais personalidades trouxeram a mim as lembranças das aventuras de Santiago (personagem do livro O velho e o mar de Ernest Hemingway – escritor) e de Gilliat (personagem do livro Os trabalhadores do mar de Victor Hugo, já citado aqui), homens destemidos, humildes e estimados.

Dorival Caymmi homenageou estes heróis do mar com a música Suíte do pescador (ver abaixo)

“Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer (…)”