Quase sempre deparo-me com algum linguajar do tipo:
- “Babei pra você” (não se importar com)
- “Menó” (menor de idade)
- “Mitou” (ação positiva)
- “Parça” (companheiro, parceiro. amigo)
- “Bugado” (quebrado, defeituoso)
- “Boy” (menino)
- “Boizinha” (menina)
- “Abrir o jogo” (contar a verdade)
- “Arregaçar as mangas” (dar início a um trabalho)
- “Bater boca” (brigar, discutir)
Este linguajar já é comum entre alguns grupos de adolescentes (gíria comum) e também entre grupos de adultos, ocorre com frequência em rodas de amigos. São comunicações de fácil entendimento (principalmente se o ouvinte for do mesmo grupo); algumas vezes, quando não se conhece certos código comunicativo das gírias (gíria de grupo), a informação fica truncada por falta do reconhecimento de certas palavras.
Embora haja a afirmação de que qualquer desvio das normas gramaticais pode ser considerado um vício de linguagem, alguns classificam as gírias parte da expressão peculiar de um grupo social, e neste caso, não seria exatamente considerada vícios de linguagem, são expressões peculiares de um grupo, são idiossincráticas, representam a dinamicidade da língua em determinada cultura.
Contudo, as seguintes falas estão carregadas de erros gramaticais:
- “É nóis aí cara!”
- “Eu vou no banheiro, viu?”
- “Nóis vai aqui e voltamos já”;
- “Professor, posso atender? Mamãe está no telefone”;
- “A gente vamos fazer isso amanhã, dá certo?”;
Acredita-se que estas gírias são consideradas vícios de linguagem, pois há elementos fora dos padrões normativos cujo o uso na fala provoca dissonância. A despeito de que os erros gramaticais, na fala, não causam grandes (ou não cause nenhum) problemas no entendimento da mensagem, elas são rejeitadas na forma escrita em dissertações, cuja normativa é o uso de gênero formal.
Alguns professores nas escolas chamam a atenção de seus alunos, sobre tudo na forma como estes expressam-se através das falas incorretas, possivelmente com objetivo de alertá-los para evitar que tal postura comunicativa não venha a afetar a escrita com o uso habitual das gírias.
Não obstante, alguns especialistas como gramáticos e linguísticos afirmam não haver erro na fala quando a comunicação é realizada. O professor Ataliba T. de Castilho (professor da USP, linguista e autor da “Nova Gramática do Português Brasileiro”) explica: “a fala errada, absolutamente errada, é quando a pessoa fala e a outra não entende”. A professora do Departamento de Métodos e Técnicas da Educação da Universidade Federal do Paraná, Vera Lúcia, escreveu em um artigo (‘A importância do conhecimento da variação linguística’): “toda língua é um conjunto heterogêneo e diversificado porque as sociedades humanas têm experiências históricas, sociais, culturais e políticas diferentes e essas experiências se refletirão no comportamento lingüístico de seus membros”. A mesma autora acrescenta:
“A lingüística moderna, no entanto, prioriza a língua falada em relação à língua escrita por vários motivos, dentre eles pelo fato de que todas as sociedades humanas conhecidas possuem a capacidade da fala, mas nem todas possuem a escrita. Analisando a nossa própria sociedade, podemos concluir que a escrita pertence a poucos, uma vez que grande parte da população brasileira é constituída por analfabetos ou semi-analfabetos e que mesmo os que tiveram acesso à escola não a usam muito. Além da língua falada ser mais utilizada do que a escrita e atingir muito mais situações, o ser humano a adquire naturalmente, sem precisar de treinamento especial.”
Em 2011 propagou-se na internet uma polêmica envolvendo o livro “Por uma vida melhor”, adotado pelo Ministério da Educação (MEC). O livro, escrito pelos autores Heloisa Ramos, Claudio Bazzoni e Mirella Cleto, era destinado à Educação de Jovens e Adultos. O mesmo fazia referência, em um dos capítulos, a duas normas da língua: uma formal (ensinado na escola) e a outra informal (nas experiências do dia a dia, o linguajar das ruas). O ponto central desta secção é sobre o preconceito linguístico. O trecho que gerou polêmica faz parte do capítulo “Escrever é diferente de falar”. Na secção denominado “concordância entre palavras”, os autores discutem a existência de variedades do português falado que admitem que substantivo e adjetivo não sejam flexionados para concordar com um artigo no plural. Veja alguns exemplos: “Nós pega o peixe”, ou ainda, “os menino pega o peixe”.

Adoniran Barbosa (nome artístico de João Rubinato, foi compositor, cantor, humorista e ator brasileiro) compôs a música “Samba do Arnesto”. Ela parece representar exatamente a forma comunicativa da fala sem seguir os padrões da norma culta da gramática.
Veja abaixo o “Samba do Arnesto”:
O Arnesto Nos convidô prum samba, ELE mora há Brás
Nóis fumos e Não encontremos ninguem
Nóis vortemos cuma baita duma réiva
Da Outra veiz nóis num vai Mais
Nóis Não semos tatu!
Outro dia encontremo com o Arnesto
Que pidiu descurpa Mais nóis Não aceitemos
ISSO Não Se Faz, Arnesto, nóis Não se importa
Mais Você Devia ter ponhado hum recado na porta
Ansim : “Ói , turma, num deu pra Espera
Uma vez Que ISSO num TEM importancia, num Faz má
DEPOIS Que nóis vai, DEPOIS Que nóis Vorta
Assinado em cruz Porque Não sei escrever. Arnesto “.
Conheça a música: “Samba do Arnesto”
Considerando que devemos conhecer os “dois lados da moeda”, este site irá apresentar dois pontos de vistas sobre a obra que gerou polêmica.
Alexandre Garcia, da Globo, é contra.
Professor Ataliba Castilho, é a favor.