por Lindeberg Ventura
É mais uma ou menos uma rodada? Depende… até que um dia …
A passagem do ano nada mais é do que um padrão, a normatização de um ciclo da Terra ao redor do Sol. É o homem querendo organizar um perfil de modo que possa estudá-lo, entendê-lo como fez Kepler, Copérnico, Galileu, Newton e muitos outros. Muito embora possa formar padrões, uma referência para estudar o fenômeno ou marcar ciclos, ele ainda fica à mercê da natureza, do acaso, e que, apesar dos augúrios benfazejos, em um determinado ponto do ciclo o indivíduo encerra sua história.
A padronização do ciclo da Terra ao redor do Sol deixa margem para registro das vivências de um povo, deixa rastro de sua existência. Das experiências ficam-se os aprendizados, ou digamos, um parâmetro de referência para julgarmos se elas são boas ou ruins. O aprendizado se dá por experiências e todas elas são essenciais para que possamos nos apoiar e sabermos em que rumo deveremos apontar, qual caminhos é menos penoso, ou mais alegre, de modo a podermos continuar.
Para cada rodada, ou ciclo, considerando o tempo de vida humana, conta-se para menos ou para mais, depende do ponto vista de cada um. Seja qual for o ângulo escolhido como padrão chegaremos a um instante no qual não contaremos mais. Esse é o fim do nosso ciclo de experiência humana. Ela (a Terra) irá continuar, quer estejamos aqui vivos ou não. Cada ciclo vai deixando pelo caminho os corpos inanimados; o passado do que já foi, o presente daquilo que já não é mais. Em cada instante, nascimento e morte. Cada ciclo um tempo especifico, padronizado, que usamos para contar a passagem do ano e assim marcarmos a quantidade de ciclos de nossa existência. É esse tempo, juntamente com o contar dos nossos dias, no qual tentamos prolongar, e muitas vezes, aplainar as angústias que sentimos ante o prazo de vencimento, que travamos sérias brigas. O medo do fim nos traz diversas atitudes psicofísicas, somatizadas no dia a dia. Alguns mais espertos perceberam isso e utilizam-se deste prognóstico para se servir, da melhor forma possível.
Pois bem, o que fazermos com os dias que nos restam dos ciclos? Litigar com o tempo? Tentar parar o Sol, como fez Josué (10:13-14)? Aliás, naquela época (de Josué) acreditava-se que era o Sol que girava em torno da Terra. Para melhor entendermos, fazendo os consertos para o nosso século: tentarmos parar a Terra, impedir que a mesma faça seu ciclo natural? Qualquer atitude que tomemos, embora acho difícil tentar refrear o ciclo da Terra em torno do Sol, a Mãe Natureza não irá guardar ressentimentos; até porque, o sofrimento ou a felicidade é seu, as ações são suas e as experiências também. O que devemos, e isto é possível, é aprender a lidar com o acaso. Há diversas técnicas (tai chi, yoga, meditação, oração etc.), que não vão ser detalhadas aqui, nas quais são capazes de amenizar a sensação de desconforto ante a presença do acaso.
O ciclo padronizado nos margeia num espaço de tempo quase sempre aquém do ciclo natural. Em cada ciclo padronizado tendemos a reforçá-lo com enfeites, ou artifício, que realimenta-se do medo e cria a esperança, espécie de energia que nos mantém impelidos para frente.
A despeito da força da esperança, nada é páreo para o acaso (alguns têm como desordem; ou podemos chamar também de Caos – deus grego da desordem. Outros autores dizem que até no acaso – ou caos – há ordem). Neste, a consumação de todos os planejamentos poderá ou não ocorrer. Vale lembrar, o planejamento (tornar plano) não conversa com o acaso. A esperança, em cada ciclo, não garante a planificação de seus desejos; às vezes, o fato passa longe do planejado e da meta esperada. Isto não significa que não podemos planejar, esta é a maneira mais prática e organizada de manter você em um rumo, muito embora este rumo, a qualquer momento, possa ser alterado. Devemos sempre lembrar da frase de Dwigh Eisenhower, que foi o trigésimo quarto presidente dos Estados Unidos, “Antes da batalha, o planejamento é tudo. Assim que começa o tiroteio, os planos são inúteis.”
Algumas religiões dizem que devemos viver na esperança, outras dizem que não há um porto seguro onde possamos ancorar o navio. Tradições espirituais, em destaque algumas tradições asiáticas, pregam, há muito, o que somente agora a ciência vem destacando sobre as incertezas dos eventos, como por exemplo, estudos sobre proporções variáveis, a imprevisibilidade, o desconhecimento de certos fatores envolvidos no fenômeno estudado.
A consciência das incertezas dos fenômenos nos aprimora. Aprendemos a ter poucas esperanças, a não se entregar totalmente a algo que é incerto, que não depende somente de nós. Acredito que se fizermos as pazes entre a mente, o tempo e o acaso, sofreremos menos; assim falam os grandes mestres espirituais, e a ciência também.
A despeito das várias conjecturas, as quais alimentam-nos na caminhada via ao ponto final, vamos acompanhando, com nosso padrão terráqueo, o ciclo da Terra em torno do Sol, contando dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, os dias nos quais irão nos levar a mais uma rodada completa… até que num belo dia …
“Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.”
(Toquinho)