Educação problematizadora
Polêmicas
Entenda o caso:

 

 A SURPRESA

No dia 20 de agosto do corrente ano o Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana (CEIPEV) recebeu intimação da justiça eleitoral. Uma das primeiras providências tomada pela direção foi comunicar do ocorrido ligando para o meu celular, que de pronto tocou [penso]. Contudo, este não estava próximo de mim [não é de costume estar sempre com o celular ao meu lado, ainda consigo sobreviver quando distante dele]. Então, por volta das 16h40min percebo doze chamadas registradas no celular, era o telefone da vice diretora. Logo que percebi aquele alvoroço de ligações pensei ser alguma emergência. Fiz o retorno. Atendeu a vice diretora que, de imediato, já foi logo informando do recebimento da intimação judicial. Daí pude constatar as reais necessidades daqueles registros de chamadas no celular. De pronto comuniquei que providenciaria o material necessário para ser apresentado ao juiz.

A FOFOCA

Corri e fiz o seguinte relato no Facebook (ainda não sabendo do teor da intimação):

“O CEIPEV RECEBEU uma intimação (da justiça) para provar (no prazo de 48 h) que as mensagens registradas no muro da escola não se referiu a uma das candidaturas que pleiteiam os cargos políticos. A ação da denuncia partiu de um dos grupos que se sentiu ofendido. Tudo por conta da daquelas frases (que não tinham nada que viessem a ferir determinado partido em especial). Só faltava essa! Veja as imagens e me digam se isso está direcionado a um partido em especial” (a mensagem foi postada juntamente com as fotos).

OS CUIDADOS COM AS AFIRMAÇÕES

Para não cair em erro (evitando afirmações sem provas) fiz as devidas correções na página do Facebook (nos comentários) e deixei um recadinho para os mais exaltados:

“O que se sabem até então é que a intimação foi apresentada a escola, solicitada pelo juiz eleitoral, pedindo explicações dos teores das entrevistas apresentadas aos diversos jornais e TVs da cidade. Em nenhuma entrevista, seja ela em jornais ou TV, foram feita referência a candidato e/ou partidos. Ainda não é possível saber de quem partiu a denuncia infundada. É provável que tenha partido de um dos grupos políticos… A escola, em conjunto com o professor (ou os professores) irá preparar o oficio com sua defesa dentro do prazo estimado pela justiça. Agradecemos a todos que se mobilizaram através desta rede social e deram o seu recado… E por favor, evitem, nos comentários (desta página), referirem a um determinado partido ou candidatos, haja vista não passarem pelos mesmos transtornos. MOSTREMOS NOSSA CARA através do protesto sadio e sem ofensas deixando a carapuça servir a quem quiser usá-la.”

JÁ NA ESCOLA…

Procurei captar mais informação sobre o assunto, enquanto preparava a papelada para ser apresentada a justiça.

QUE PAPELADAS SÃO ESSAS?

Como é de práxis (pelo menos para casos como este), o juiz eleitoral, no exercício de seu dever, encaminhou uma intimação à escola para que, num prazo máximo de 48 h, esta explicasse todos os detalhes que viessem revelar as intenções das frases pintadas no muro. De pronto [no tempo proposto pela justiça] foram anexados junto ao ofício o plano de aula, as assinaturas dos alunos, assim como todos os detalhes acordados entre os alunos (pagamento, e responsável pela fixação das frases).

A REVELAÇÃO

Após a movimentada semana, tendo de dar explicações a justiça e tal, a empreitada, que aqui batizo como: “O CASO DAS FRASES QUE MACHUCARAM OS CORAÇÕES DOS CANDIDATOS” foi desvendada, chega ao seu fim.

Vamos as explicações

Em conjunto com os alunos, tendo em vista o projeto sobre o meio ambiente, que será aplicado na escola, propus um trabalho (alunos da 3ª série, turma A, do turno matutino do Ensino Médio). A ideia primeira era combater (através de mensagens) os constantes excessos sonoros dos carros de som das campanhas eleitorais que passavam por duas vias bastante movimentadas – a rua Duodécimos Rosado e a avenida Diocesana (Ver Plano de Aula resumido abaixo apresentado).

Os alunos, no exercício de seu dever, fizeram orçamento necessário para realização da tarefa, ao mesmo tempo em que outros grupos se mobilizavam na produção das frases (algumas das quais abaixo apresentadas) e da paródia.

Frases: “Vocês querem votos, nós queremos estudar!”; “Pedir voto é fácil! Baixar o som próximo das escolas é difícil? Candidatos, estamos de olho.“; “Vocês querem se eleger, nós queremos nos formar. Para isso, precisamos de estudar. baixem o som!!!”; “Como pensar em política, se não temos educação para isso? Som alto atrapalha. Sejam coerentes”.

Com as frases confeccionadas, chegou a hora de registrá-las no muro.

Diante daqueles avisos (já fixados na parte lateral e dianteira do muro), os transeuntes fitavam as mensagens e cada qual fazia sua interpretação. Até aí tudo bem…

Até que, num belo dia, um grupo resolveu distorcer as informações em seu favor. Registrou fotos (das mensagens no muro), gravou em mídia, e apresentou a justiça em forma de denuncia contra a Coligação Frente Popular Mossoró Mais Feliz (composta pelos partidos PRB, PP, PDT, PT, PPS, PHS, PTC, PSB, PRP, PPL, PSD, PC do B, PT do B) fazendo referência à movimentação do comitê central (Casa 40) por estar prejudicando a escola, o Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana (CEIPEV). Principalmente entre os horários das 19h e 22h, horário das aulas no período noturno. A denúncia tinha como ponto de prova as mensagens aqui referidas.

Se, neste horário, isto acontece (ou acontecia) realmente, não sei. Trabalho no período matutino e as frases foram produzidas pelos alunos do turno matutino. Estas tinham como foco alertar aos candidatos o excesso de som (assim como os níveis em decibéis) produzido pelos carros das campanhas eleitorais nas proximidades do CEIPEV. Isto ficou bem claro e registrado em jornais e TVs, em diversas entrevistas dadas aos respectivos meios de comunicação, salvo alguns jornais que distorceram a informação e que não procuraram a fonte. Registrou o que achava (o que pensava), ou seja, baseou sua reportagem no “achismo” – mania de responder tudo sem pesquisar antes e chutar um contexto para o fato).

Venho aqui lembrar que, em nenhum momento, o CEIPEV recebeu visita da Coligação Força do Povo (composta pelo DEM, PMDB, PR, PTN, PSL, PMN, PV e PSC) a fim de saber as reais intenções das frases, ou seja, a coligação não bebeu da fonte (não veio colher os fatos na suas origens, que estavam, em detalhes, no plano de aula do professor – desta pessoa que vos escreve). Neste caso, a dita coligação usou de suas interpretações trazendo o foco das mensagens em seu favor, registrando as denúncias contra a outra coligação.

Ficam aqui registrados alguns fatos deste caso. Maiores detalhes darei a quem me procurar, e se for estritamente necessário, falarei novamente.

O QUE FICOU?

A força de um movimento como esse, mesmo que não tínhamos a ideia de tão grande impacto, se fez perceptivo, pois, e segundo informações coletadas, os comitês que ficavam nas proximidades de algumas escolas, como exemplo o CEIPEV e o Mater Christi, foram transferidos para outro local provavelmente por ordem da justiça eleitoral. Destaco também, a capacidade e a força que temos, quando unidos, em prol de um bem maior; ao zelo pela democracia e conscientização através de mecanismos eficientes que é a educação de um povo através das escolas, estas, por sua vez, quase que abandonada pelo poder público; a satisfação de ter cumprido o trabalho que se tornou de grande valia, tendo como força maior, o empenho dos alunos que aqui demonstraram o desejo de fazer valer a sua cidadania.

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RESUMO DO PLANO DE AULA

OBJETIVOS:

Mostrar aos alunos os problemas da poluição sonora nas proximidades da escola em época de campanha eleitoral.

Propor a sala um trabalho que venha a alertar aos candidatos o respeito a instituição de ensino quanto ao uso excessivo de equipamentos sonoros (assim como os níveis apropriados em decibéis), quando em época do referido pleito, nas proximidades da referida escola.

METODOLOGIA:

Através do debate em sala de aula, com enfoque aos problemas da poluição sonora, o professor deverá lançar a ideia, tendo como foco principal o uso da pintura no muro da escola, assim como, deixar um recado aos candidatos que pleiteiam aos cargos políticos. Será proposto, em conjunto com os alunos da sala, o local (espaço no muro) no qual serão registradas as pinturas (mensagens). A proposta mais pertinente é que a pintura deverá ficar próximo aos semáforos, haja vista os condutores dos carros que trafegam por entre estas duas vias possam observar quando estiverem parados. A pintura (o pintor) e as frases (assim como sua verificação gramatical) deverão ser propostas pelos próprios alunos. Contudo, as escolhas das frases propostas por estes deverão passar pela análise do professor antes de serem liberadas. Após escolha, os alunos deverão cumprir o que ficou discutido em sala de aula, assim como produzir uma paródia envolvendo os assuntos sobre os conteúdos estudados e incluir o tema que foi debatido sobre a poluição sonora.

(Aulas previstas: 4 aulas)

AVALIAÇÃO:

Será realizada através do cumprimento dos pontos acordados, em sua plenitude, em sala de aula. Através das conversas com a turma será realizada avaliação sobre o cumprimento de cada etapa do trabalho ( e seus respectivos impactos social e local, sala de aula) e apresentados as notas nas respectivas fases do trabalho. A nota estará atrelada, também, a iniciativa, ao trabalho em equipe, e aos cuidados quanto ao respeito e zelo pelos teores das mensagens.