PARECE que boa parte da nossa tradição espiritual ocidental concentra-se no sofrimento do outro com intuito de utilizá-lo para sua própria conveniência. Através desta linha de pensamento algumas correntes dogmáticas tentam convencê-lo a seguir suas teorias prometendo o paraíso aos seus associados. Para tanto, as opções colocadas a fim de se chegar ao dito local estão intimamente ligadas ao momento de fraqueza da pessoa, já que esta, por sua vez, busca conforto emocional. A moeda de troca (o suposto conforto oferecido pela igreja em troca da obediência cega – o que hoje muitos chamam de fé) é a garantia da “guarda espiritual”. Entre tanto, não é a única exigência. Há, ainda, entre muitos, a doação monetária (a chamada oferta). 
Algumas religiões buscam no sofrimento alheio o momento de “pegar o cliente”. Talvez seja por isso que as emissoras de TV veiculem a programação de algumas Igrejas no período da noite e/ou na madrugada, haja vista a pessoa preocupada não sossegar a mente (ou seja, não consegui dormir) durante a noite. Outras oferecem a paz celestial na qual nem elas a tem. Essa forma de ganhar associados seja pela linguagem mítica do pecado, ou pela promessa da boa saúde, ou mesmo, uma melhoria financeira e a supressão do sofrimento (ou seu alívio), atrai inúmeros adeptos que se propõe (em troca da extirpação de seus males) a garantir a sobrevivência dos que fazem o templo. Com isso, as igrejas acumulam superávit a ponto de tornarem-se ricas. Tudo isso à custa do sofrimento alheio. Foi assim na idade média na venda das indulgencias pela a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. A fim de se diminuir a culpa e a pena dos pecadores, a Santa Igreja passa a fazer “negócios” com essa “graça”, em troca, claro, de parte do patrimônio dos desafortunados. 
O escritor Rubem Alves, em uma de suas entrevistas, faz a seguinte afirmação: “Parece que Deus se deleita quando vê o homem sofrendo”. Apoiando-se nesta frase é possível lembrar a forma como algumas pessoas, em sofrimento, fazem suas orações. Algumas vezes, prometem que irão subir as escadas mais altas da igreja, diz que irão fazer uma peregrinação, ou acompanhar a procissão descalço (já vi até pessoas com pedras em suas cabeças), ou carregando uma cruz (ou os dois); mais ainda, ouvimos dizer que irão fazer sacrifícios, alguns dos quais, doarem dinheiro (Que, muitas vezes, se consegue com tanta dificuldade, talvez até deixando de fazer uso das necessidades diárias mais importantes, por exemplo, deixando de pagar as contas vencidas, ou por vencer) a uma instituição religiosa, deixar de ouvir sua música predileta, ou vestir a roupa predileta, ou mesmo, deixar de freqüentar os locais que antes considerava agradáveis, de fazer isso ou aquilo, etc. Há sempre uma perda com intuito de provocar o sofrimento em si e agradar aquele ser superior (se é que este ser superior realmente se interessa por estes tipos de sacrifícios). Se o deleite realmente acontece (ou mesmo, se o interessa o sofrimento alheio), é sinal que existe sado (o que nos diz que, também, há ego) da parte de quem as observa e as aceita como tal.
Essa maneira de tentar agradar pelo sofrimento nos remete a outra época na qual se faziam sacrifícios de animais, até de pessoas (no caso dos Maias), em prol de uma suposta proteção divina.
Rubem Alves dizia: ninguém ora pedindo “Senhor eu prometo que se eu alcançar essa bênção, todos os dias às seis da tarde eu vou ler um poema de Fernando Pessoa”. Ninguém oferece boas coisas ao Divino.
Por tudo isso, penso: ou o povo não entende o que significa (na sua essência) religião ou a forma de ensinar, registradas pelas escrituras sagradas, são nada mais nada menos representadas por castigos e recompensas. 
CREIO que as interpretações humanas são falhas (pois também sou humano). Todavia, nada me garante de que o lado de lá (os dogmas religiosos ocidentais) seja mais belo. Se me pegar pensando nas atrocidades realizadas em nome de um suposto deus que castiga, denuncia, cria recompensas para me atrair, ou que condena a minhas escolhas quando não o agrada (como se observa em boa parte das escrituras), prefiro ficar aqui com meus pensamentos e devaneios na busca de sentir o Universo dentro de mim, de reverenciar a Mãe Natureza, ouvir os pássaros, sentir a brisa no corpo, acordar cedinho para ver o sol nascer, dormir tarde para acompanhar a lua no seu percurso; ou, sofrer calado (sabendo que não há quem vele por você nas suas angústias), aceitar a vida como ela é (nua e crua), reconhecer a limitação humana e aceitar as incerteza das coisas, do que me entregar a algo que é corrupto, mentiroso e desleal.