Todas as profissões têm seus percalços, estorvos maiores ou menores fazem parte dos milhões de trabalhadores “nesse Brasil de caboclo de mãe preta e pai João”, como diz José Mariano – poeta e cordelista. Mas destaco a profissão de professor como “casa-da-mãe-Joana” (fazendo jus a uma expressão muito antiga – séc. XIV), local de bagunça, onde todos “metem à mão”. É salutar, que todas as pessoas que querem ser médicos, estudam medicina; para quem quer ser advogados, estudam advocacia; para aqueles que pretendem ser engenheiro, estudam engenharia, etc. Então, por que para ser professor não precisa estudar?
Quase todas essas profissões (exceção a de professor) têm seu defensor. Para os médicos, o conselho de medicina; para os advogados, a OAB; e para os engenheiros, o conselho de engenharia. Ninguém defende a profissão quando pessoas assumem ser professor, sem estar devidamente qualificado. Por quê? Talvez a defesa dessa profissão seja o sindicato que o faz…Confesso, não vejo isso.
Será que para ser professor não é necessário tanto estudo? Será que a profissão de professor é tão fácil assim, sendo desnecessária a formação acadêmica? Creio que não. É de importância impa a academia, sem a qual, não há o professor (oficialmente apto ao exercício da profissão). Convém saber que a academia forma o profissional técnico – onde os quais estão aos milhares. Todavia, é no íntimo de cada ser, embalado pela vocação que se forma o educador – para este, o amor é sua formação. Então, quer dizer que aquele que não é formado na academia, poderá ser um educador? Sim. Mas, não será um professor educador. A palavra educador, referido no dicionário, é aquele que educa. Logo, pelo dicionário, qualquer um educa. Contudo, acho que para ser educador tem que haver algo mais; e este algo seria a vontade manifestada nas entranhas do ser que se propõe a educar.
O profissional (formal) tem a qualificação para ministrar a essência do conteúdo para a formação do cidadão numa sociedade. Entretanto, e conjuntamente com o formal, o professor educador estará mais apto a assumir um espaço de sala de aula, pois mantém a frieza da formalidade e a beleza da sensibilidade, ambas necessárias ao equilíbrio do profissional educador. Como diz Rubem Alves, em um de seus livros (Conversando com quem gosta de ensinar, 2006): “o professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação”.
A meu ver, é indispensável à formação acadêmica, para tanto, tem que estar devidamente oficializado, papel passado; tem que sofrer o bom sofrimento (aprender), digo mais, tem que sofrer gostando (nada a ver com mazoquismo), se quiser ser um bom profissional. Tomo emprestado a frase de Willian Black (poeta inglês): “O prazer engravida, o sofrimento faz pari”. Prego batido, ponta virada!
Para ser educador, se faz necessário à vocação, o amor, a vontade de educar, a paciência, a ética e a moral, ou seja, a formação acontece no íntimo de cada um, ou melhor, no íntimo de quem se dispõe a educar. Mais uma vez, depende do empenho, do querer com vontade e dedicação. O caminho não é fácil, o sofrimento também baterá à porta. Tem que estar disposto a dançar com as angústias, a deitar com o sofrimento, a enamorar com as incertezas e a apaixonar-se pelas nuances da vida em cada ser humano.
O caminho é sofrível (tanto para um, quanto para o outro), mas também é prazeroso. Ora agente quer abandonar, ora agente quer ficar. Nestas incertezas, há os que vão (desistem), há os que tentam desistir (mas ainda não o fizeram), há também os que querem ficar (alimentando esperanças nas incertezas). Ser professor (professor educador) não é fácil, por isso, quando alguém me diz que é professor, ou quer ser professor, vem à vontade de fazer duas perguntas: o quanto você já se dispôs, e está disposto, a realmente ser um professor? Quão de vocação carregas para ser educador? Sem essas respostas no coração, não estará pronto para ser professor, e, nem muito menos, educador.