Se você soubesse o dia em que você encerraria a sua história aqui na terra, como você veria o tempo? Será que sua percepção iria ser de contagem regressiva ou de contagem progressiva sem se preocupar com tais coisas? Será que você gastaria o tempo como algo que não valeria a pena? Ou será que tudo vale a pena? Ou melhor, como você começaria a ver a vida? Existe técnicas para aprender a conviver com a passagem do tempo?
“O tempo foge” ou como agente costuma falar – “o tempo voa” –. Toda nossa vida é demarcada pelo fluxo do tempo, estamos constantemente envelhecendo. Para alguns filósofos como por exemplo Kant, o tempo é conceito humano e por ser tal, ele não existe fora da razão. Criamos um padrão para nos apoiarmos.
Bom, padrão ou não, ele é perceptível a luz da razão humana. Assim, fico com a frase de um poeta romano, Virgílio: “Sed fugit interea fugit irreparabile tempus” (“Mas ele foge: irreversivelmente o tempo foge”). Ou ainda, a música de Gilberto Gil “Tempo Rei”, no qual, o cantor faz alusão a passagem do tempo, “tudo permanecerá do jeito que tem sido, transcorrendo, transformando…”. Atendo-se a tais pensamentos, marcamos aqui a fluidez do momento (em observância ao pensamento de Heráclito de Efeso – “tudo flui”), sempre a frente, sem volta. É nesse ponto que a frase que costumamos ouvir: “vou recuperar o tempo perdido” deixa de existir. Se o tempo não volta, logicamente, você não irá mais recuperar. O que realmente poderá ser feito é aproveitar o restante do tempo. A fluidez das coisa dá reforço a outra frase – “nunca colocamos o pé duas vezes no mesmo rio”.
Tendo a consciência desse fato – o tempo voa – é possível aproveitar a vida com mais sabedoria. Não só deixar o tempo passar, mas deixar o tempo passar aproveitando cada momento que se tem. Sempre manter a atenção as essências das coisas, as mudanças (sutilmente perfeita) da passagem do tempo, do momento do nascimento do dia ao seu término. A beleza das transformações de uma flor e as nuances dos crepúsculos. Observar seu envelhecimento, sua decrepitude. E, se não tiver muito medo, observe que a cada momento você se aproxima do seu fim (pelo menos como pessoa participando desta sociedade) neste planeta. É muito importante perceber a passagem do tempo, pois cada instante há possibilidade de aprender com a fluidez do momento. Algumas linhas do pensamento budista constroem mandalas* de manteiga (na madrugada de um novo dia) e logo que o sol nasce, e a toca, ela começa a derreter. Esta simbologia tanto representa a morte como a fluidez do tempo.
Bom, me parece que estou filosofando muito, não é? Mas é assim mesmo, filosofar é parte fundamental da racionalidade humana. É com esse pensamento que trilhamos a vida com mais profundidade. Se bem que, se agente procurar perceber tudo com mais detalhe, observamos que as coisas mais simples do nosso dia-a-dia é um belo acontecimento no processo da passagem da vida.
Comece a aprimorar sua visão; primeiro procure um momento em que você está se sentindo bem, perceba como as coisas passam, perceba que aquele exato momento onde você está (ou seja, o que estiver fazendo) é único e que não haverá um outro momento igual (tudo flui). Faça essa prática com algo singelo em sua vida. Por exemplo, se você tem um namorado ou namorada, veja o que sente quando percebe que aquele exato momento irá acabar (digo, irá terminar, não o namoro, mas o momento de estar com ele ou com ela). Sentir o exato momento das coisas é aprender a viver no presente. A consciência das incertezas das coisa não é muito agradável, mas é um fato real de nossa existência.
Não podemos mudar as incertezas, pois ela é incerta, mas podemos aprender a conviver bem com essas angústias da beleza da vida. Agora veja o seguinte, se você não tem um namorado (ou namorada), isto não importa, não é o fato (ter um namorado ou namorada) que leva a prática, mas a ação que é realizada; por exemplo, procure descobrir o que lhe traz paz: varrer a casa, lavar pratos, olhar os carros passarem, lavar o carro, a bicicleta, a moto, brincar com o cachorro, ficar em silêncio e sozinho, sentar na causada ou mesmo conversar com amigos. Tudo na vida é passivo de atenção, então, procure os mínimos detalhes e observe a fluidez das coisas. Quando sua atenção estiver bastante treinada será o momento de passar para coisas um pouco mais desagradáveis. Lembre-se, há certo momento, no qual, terá que prosseguir nas análises, mesmo que causem um pouco de desconforto. Contudo, só poderá prosseguir seguro na prática quando já estiver pronto. E, só você, saberá quando.
Estas técnicas de atenção ajudará a aprender a conviver com a nossa finita vida. Aprender a conviver com as incertezas e o fluir das coisas será uma grande armadura para enfrentarmos nossa vida pessoal com maior alegria.
Só aprenderemos quando houverem perguntamos (mesmo que as perguntas não tenham uma resposta). Como diz Sócrates: “o mais importante que as respostas, são as perguntas”. Então, “Carpe Diem” (aproveite o dia).
_______________________
*Mandala – é uma palavra em sânscrito – língua hindu antiga – que significa círculo – é uma representação cíclica entre o homem e o cosmo.