Os que são contra a melhoria na educação (ou contra as lutas dos professores) afirmam que o professor entra em greve somente pelo salário. Contudo, e só para justificar algumas necessidades, digo que pararam porque fatores negativos que se somam, desde muito tempo, emperram a continuidade dos professores em sala. O salário é um, dos vários quesitos da parada, e é justamente este, que afeta diretamente, e mais emergencial, a vida do educador. Os outros são de tamanha importância, mas de impacto em longo prazo. Qualquer trabalhador sentirá na pele, quando o salário perde força numa luta ferrenha contra o “bicho-papão” (preços autos, desvalorização do salário que a muito não é reajustado de maneira equilibrada).
Assim, acho que  …
Parou porque o professor carece de respeito ante a uma profissão que a cada momento é viés de chacota.
Parou porque, a profissão de professor já é sinônimo de “profissão quebra galho”, principalmente para aqueles que ainda não tem o que fazer, e no mais que de repente, vai ministrar aula.
Parou porque, esta mesma pessoa (leia-se:  professor), já não consegue formar cidadão, haja vista as atitudes de desrespeito e a insegurança dentro das escolas.
Parou porque os vencimentos não mais condizem com uma profissão de risco: risco a perca da saúde (doenças da profissão – renite, doenças nas cordas vocais, estresse), risco a perca da vida no trabalho, risco de insalubridade (uso de materiais tóxicos no trabalho ou que provocam alergias).
Parou porque, os vencimentos já não condizem com a vontade de aprender, pois faltam recursos para que os docentes comprem jornais, revistas, livros, entre outros. E ainda, que participem de pós-graduações e capacitações; ou seja, se atualizem. O único investimento é a sobrevivência da sua família. Por isso, é muito difícil comprar materiais de o apoio pedagógico se ele tem as contas básicas mais imediatas para pagar, e, neste caso, consomem o pouco recurso conquistado a duras penas.
Parou porque não há condições de trabalho: escola com infra-estrutura comprometida,  carteiras desconfortáveis, salas superlotas, pátios e salas de aula sem acessibilidade aos portadores de necessidades especiais (e quando tem, está fora das normas). A ausência destes e outros quesitos básicos tornam impossível a ação do profissional.
Parou porque, quem dita às regras (que diz a maneira de como ensinar, que impõe exclusividade na direção do trabalho escolar, quem diz número de alunos em sala de aula etc) não é quem faz parte da formação, que está todos os dias com os alunos (“quem está no batente”), que sabe da realidade de uma sala de aula ou da realidade da escola; mas é quem está longe (em gabinetes), longe de sentir o calor das relações humanas na peleja da formação, longe da realidade de uma escola, longe do borbulhar de uma sala de aula.
Parou porque, quando mal formados (pois a escola de onde vieram não soube, ou não teve, como prepará-los), os alunos continuam sem saber as reais condições políticas e sociais de seu país (ou do mundo a sua volta), e estes usam o voto de maneira inapropriada. E este mesmo voto, assim como um bumerangue, volta-se para o local de onde partiu de maneira mais desagradável ainda, transformado em corrupção, falta de assistência a saúde, a educação e a segurança.
Parou porque, é preciso dizer: a greve é sinônimo de democracia. E, não há ganho sem perda. Porém, o difícil (ou quase não existe) é a conquista sem luta.
Parou pra dizer: “Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora não espera acontecer” (Geraldo Vandré – na música: “Pra não dizer que não falei das flores”)
A isso, apresento parte de um texto  sobre uma pesquisa do Dieese, em 2004!:
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) – Relatório anual de 2004 -, para mais de 1/3 dos professores as condições da sala de aula são as piores instalações das escolas. E a sala dos professores 37%. Cerca de 1/3 dos entrevistados avaliou como péssimas as instalações da estrutura física da escola e a maioria apontou o barulho, o calor e a ventilação como insuficientes como situação de incômodo no trabalho. 73% assinalaram a superlotação nas salas de aula como um dos principais motivos de sofrimento no trabalho. 13% afirmaram ter sofrido algum tipo de acidente de trabalho, muito mais mulheres do que homens. O ambiente em que a escola está inserida também é motivo de preocupação dos professores. Há casos de escolas que estão em áreas de extremo risco, aonde os professores chegam a ser ameaçados por alunos e por pais de alunos. Também são frequentes tiros dentro da escola e de alunos assassinados pelo tráfico de drogas no horário de aula, o que provoca tensão permanente e uma alta rotatividade dos professores. (Fonte: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0084.html)
Lembrem-se, a educação é a chave para abrir as portas da liberdade. Principalmente da liberdade dos engodos da política patética e insensata.