Até quando agente irá ser refém dos nossos mitos? Entendo que os mitos são bons para que possamos percorrer caminhos sem tanta agonia. Porém quando fazemos desses mitos nossa bengala, de modo a servir pra tudo, como apoio até onde eles não são necessários, contribuímos para uma dolorosa caminhada. Ainda que ilusoriamente, achamos que eles estão nos ajudando. Mas, tudo o que está em excesso é prejudicial. E, nem tudo o que nos agrada é bom para nós. Assim como, nem tudo que desagrada é ruim.
Sentimos acovardados diante das grandes dificuldades da vida. Esse medo nos faz buscar algo para consolar (procuramos o conforto). O medo é generalizado, nos faz saber que não somos “o rei da cocada preta”. Temos um começo e também um fim (melhor dizendo, passaremos por uma transformação que não podemos controlar – é fato – sem direito a opinar). A não aceitação dessa realidade é a principal fonte do medo. É por saber da existência de nossa finitude que procuramos algo para evitá-la, ou melhor, escondê-la (ou ainda, sonhamos com algo além da vida para nos satisfazer). Buscamos uma forma de aliviar a certeza de um fim, como seres humanos. Mas não se pode burlar a natureza (apenas podemos nos enganar). É uma questão de tempo. Aceitar o fato não é fácil, mas é possível. Digo aceitar, e não seria entregar-se aos mitos. Mas entender (o quanto possível) a necessidade e a importância desse “fim”.
É a razão que nos faz sofrer, ou que nos traz alegria. O pensar coloca em nós (ou tira de nós) as amarras dos mitos. Os animais não os têm. Você já viu, ou já notou, um animal orando quando vai ser morto? Você já viu quantas igrejas existem para que os animais se organizem em função de outro de sua espécie justificando ser este outro animal (de sua linhagem) algo supremo, ou abençoado por um ente santificado? Você já viu algum animal pedir ajuda a seres santos para ser ajudado na caminhada pelas angústias da vida (muitos deles provocadas pelo próprio homem)? Claro que não!
Pois bem, eles não estão presos pelos mitos. Não necessitam dessas amarras. Eles têm sim medo de morrer. Mas não usam supostos salvadores para tentar escapar de algo naturalmente verdadeiro, a própria morte. Como já disse, é fato. Fato que não aceitamos, fatos que fazemos de tudo para escondê-la, prometemos de tudo, até a própria vida social a fim de rendermos a crenças escrita e formulada pelo próprio homem. Doamos tudo em busca de proteção. Contudo, perdemos tudo, porque não há proteção. Há somente a essência das coisas que irá ser retransformada e que estão além de nossos conhecimentos terrenos.
Inventamos algo mágico (dádiva de um tal Ser) para coisas que fogem a nossa compreensão. Nos mitos religiosos muitos já foram enganados (e ainda são) com promessas. Na idade antiga e/ou média, existiam as indulgências (para que os pecados da pessoa fossem retirados por completo esta pessoa teria que pagar); perseguiram e mataram alguns filósofos e cientistas só porque não seguiam os ditames da igreja. Perseguiram Copérnico e prenderam Galileu Galilei porque afirmavam que a terra não era o centro do universo. Em fim, perseguição e assassinatos em massa em nome de um suposto Deus (criado e usado para dominar as massas não pensantes).
Curta os mitos, mas não deixem que eles dominem sua vida. Quando usado com sabedoria, passam a ser ilusões prazerosas (ainda que inúteis a realidade dos eventos naturais). Quando usados como “o senhor de sua vida” deixam marcar dolorosas no percurso da vida (ou que você passará por esta vida sem sentir a essência da existência humana).